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quarta-feira, 5 de março de 2014

Diante do tráfico de pessoas ‘não é possível ficar impassível’, diz Papa Francisco


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nesta Quarta-feira de Cinzas (5), a mensagem do Papa Francisco aos brasileiros para a abertura da Campanha da Fraternidade. Em suas palavras, o Santo Padre destacou o empenho da Igreja Católica na mobilização dos fiéis contra a “chaga social” que representa o tráfico humano.

“Visando mobilizar os cristãos e pessoas de boa vontade da sociedade brasileira para uma chaga social qual é o tráfico de seres humanos, os nossos irmãos bispos do Brasil lhes propõem este ano o tema ‘Fraternidade e Tráfico Humano’”, enfatizou.

“Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como mercadoria!”, completa o Papa.

Queridos brasileiros,

Sempre lembrado do coração grande e da acolhida calorosa com que me estenderam os braços na visita de fins de julho passado, peço agora licença para ser companheiro em seu caminho quaresmal, que se inicia no dia 5 de março, falando-lhes da Campanha da Fraternidade que lhes recorda a vitória da Páscoa: «É para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gal 5,1). Com a sua Paixão, Morte e Ressurreição, Jesus Cristo libertou a humanidade das amarras da morte e do pecado. Durante os próximos quarenta dias, procuraremos conscientizar-nos mais e mais da misericórdia infinita que Deus usou para conosco e logo nos pediu para fazê-la transbordar para os outros, sobretudo aqueles que mais sofrem: «Estás livre! Vai e ajuda os teus irmãos a serem livres!». Neste sentido, visando mobilizar os cristãos e pessoas de boa vontade da sociedade brasileira para uma chaga social qual é o tráfico de seres humanos, os nossos irmãos bispos do Brasil lhes propõem este ano o tema “Fraternidade e Tráfico Humano”.

Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como mercadoria! Pense-se em adoções de criança para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem direitos nem voz, etc. Isso é tráfico humano! «A este nível, há necessidade de um profundo exame de consciência: de fato, quantas vezes toleramos que um ser humano seja considerado como um objeto, exposto para vender um produto ou para satisfazer desejos imorais? A pessoa humana não se deveria vender e comprar como uma mercadoria. Quem a usa e explora, mesmo indiretamente, torna-se cúmplice desta prepotência» (Discurso aos novos Embaixadores, 12/XII/2013). Se, depois, descemos ao nível familiar e entramos em casa, quantas vezes aí reina a prepotência! Pais que escravizam os filhos, filhos que escravizam os pais; esposos que, esquecidos de seu chamado para o dom, se exploram como se fossem um produto descartável, que se usa e se joga fora; idosos sem lugar, crianças e adolescentes sem voz.

Quantos ataques aos valores basilares do tecido familiar e da própria convivência social! Sim, há necessidade de um profundo exame de consciência. Como se pode anunciar a alegria da Páscoa, sem se solidarizar com aqueles cuja liberdade aqui na terra é negada?

Queridos brasileiros, tenhamos a certeza: Eu só ofendo a dignidade humana do outro, porque antes vendi a minha. A troco de quê? De poder, de fama, de bens materiais… E isso – pasmem! – a troco da minha dignidade de filho e filha de Deus, resgatada a preço do sangue de Cristo na Cruz e garantida pelo Espírito Santo que clama dentro de nós: «Abbá, Pai!» (cf. Gal 4,6).

A dignidade humana é igual em todo o ser humano: quando piso-a no outro, estou pisando a minha. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! No ano passado, quando estive junto de vocês afirmei que o povo brasileiro dava uma grande lição de solidariedade; certo disso, faço votos de que os cristãos e as pessoas de boa vontade possam comprometer-se para que mais nenhum homem ou mulher, jovem ou criança, seja vítima do tráfico humano! E a base mais eficaz para restabelecer a dignidade humana é anunciar o Evangelho de Cristo nos campos e nas cidades, pois Jesus quer derramar por todo o lado vida em abundância (cf. Evangelii gaudium, 75).

Com estes auspícios, invoco a proteção do Altíssimo sobre todos os brasileiros, para que a vida nova em Cristo lhes alcance, na mais perfeita liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8,21), despertando em cada coração sentimentos de ternura e compaixão por seu irmão e irmã necessitados de liberdade, enquanto de bom grado lhes envio uma propiciadora Bênção Apostólica.

Vaticano, 25 de fevereiro de 2014.


Quarta-feira de Cinzas - Início da Quaresma

Dia de Jejum e abstinência de carne

Já tivemos as celebrações hoje nas seguintes comunidades:


07h – Igreja Nossa Senhora do Rosário – Viúva
07h – Santuário São João Batista
09h30 – Igreja São José

Estaremos unidos ainda hoje:

16:00 - Boa Vista
19h30 – Santuário São João Batista
19h30 – Igreja do Rosário de Cocais
19h30 – Igreja Nossa S. Perpétuo Socorro – Leão XIII

Venha participar conosco. Convide os seus vizinhos, aguardamos por vocês.


Quarta-Feira de Cinzas: As cinzas do carnaval e as cinzas da Igreja?

Receber as Cinzas no início da Quaresma não é apagar os pecados e abusos cometidos na festa do Carnaval. Antes, deve ser um compromisso de vivência cristã todos os dias de nossa vida.

A quarta-feira de cinzas é o fim do carnaval e o começo da Quaresma. Uns rasgam as fantasias. Outros “rasgam o coração”. Se acaso havia relação entre carnaval e cinzas, (pecado e arrependimento), hoje não mais. Uma coisa sucede à outra no calendário por razões históricas. Não há interdependência espiritual. Sempre foi errado pensar que receber cinzas apagaria os pecados e abusos carnais da folia. A religião não é “conta bancária”: créditos e débitos. Findo o carnaval o débito seria bem alto e o rito das cinzas uma espécie de “acerto de contas” com Deus. Talvez haja sim quem aproveite os estertores do carnaval se esbaldando até a quarta-feira e misture as cinzas dos bailes e desfiles com as da Igreja. Seria esse um gesto de sincera conversão ou apenas crendice inútil? Nossa maior desgraça é uma só: afastar-se de Deus e viver de modo incoerente o seu amor. Portanto, nenhum ritual exterior purificará alguém dos gozos e excessos dos dias em que “tudo parecia permitido”.

A imposição das cinzas propõe ao fiel um caminho de conversão interior: o desejo de seguir o Cristo padecente, crucificado e ressuscitado, praticando as virtudes da Quaresma. Tempo que intensifica o empenho constante da conversão cristã. É útil lembrar: na Bíblia converter-se é fazer uma reviravolta completa nas idéias, atitudes, costumes e convivência social. Abandonando interesses egoístas e materiais como critérios de relacionamento com Deus e os outros. A fé cristã – no particular e no social – é busca contínua da verdade, justiça, fraternidade e não um tipo de “quebra-galho” dos problemas, doenças, negócios e angústias. Daí a coerência entre fé e vida. Oração e conduta não podem se contradizer. Pedidos, desejos e propósitos proferidos nos ritos religiosos e em devoções pessoais ligam a doutrina, as convicções da fé e a ética a todas as áreas das relações humanas. Se não houver sintonia entre o que se reza e o que se vive, não haverá conversão nenhuma. Seja lá o rito que se fizer!

As cinzas simbolizam a fragilidade humana e a desgraça que o pecado nos traz com o egoísmo, a ambição, a insensibilidade. Ao recebê-las reconhecemos o que somos. Dependentes do Senhor da vida até para nos amarmos uns aos outros. O homem não tem a explicação de si mesmo e do universo. Em seu anseio mais profundo precisa da fé em Deus. Por isso os profetas atribuíam os males do povo à sua infidelidade com Deus. Diziam que era preciso “rasgar o coração e não as vestes”. O costume de rasgar em público uma parte da roupa era um sinal de penitência, arrependimento e dor. Ao lado desse havia outros ritos exteriores: o jejum, a cinza, a esmola. A Bíblia ensina: não bastam os ritos! É imperioso criar novas relações sociais de justiça, direitos, conduta moral e dignidade coerentes com a santidade de Deus. Rasgar o coração significava então abraçar no íntimo e no social a aliança com Deus e o amor aos irmãos em todas as situações.

Os 40 dias do itinerário quaresmal nos associam mais de perto à Páscoa de Jesus. Passamos por um treinamento espiritual: maior atenção à Palavra de Deus, mais tempo de oração, renúncias pessoais livres para ter o autodomínio sobre as más inclinações e intensificar a prática da caridade (Campanha da Fraternidade).

O carnaval é cinza sem vida. A Quaresma é cinza que produz vida, purificando-nos!

Chaga social que nos envergonha




No ano de seu cinquentenário, a Campanha da Fraternidade traz um tema complexo e desafiador: tráfico humano. Para a grande maioria da população brasileira será uma chocante surpresa constatar a existência desse crime em nosso país. E numa proporção jamais imaginada.

A ONU descreve o crime de tráfico humano como “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso de força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração”.

São quatro as principais modalidades de tráfico humano: para exploração no trabalho, para tráfico de órgãos, para exploração sexual e tráfico de crianças. Trata-se de um crime organizado que rende uma fortuna aos que o praticam. Com mais de 241 rotas nacionais e internacionais, esse crime tem a invisibilidade como sua maior aliada. Suas vítimas nem sempre o denunciam seja por falta de consciência da exploração a que são submetidas, seja por vergonha ou medo de represálias dos que as exploram.

Alguns números nos ajudam a entender melhor do que estamos falando. Segundo a ONU, o tráfico humano rende cerca de U$ 32 bilhões por ano. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou, em 2012, que as vítimas do trabalho escravo e da exploração sexual no mundo somaram 21 milhões de pessoas. Desse total, mais da metade (55%) é de mulheres e jovens. No Brasil, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra, entre 2003 e 2012, foram registrados 62.802 casos de pessoas em situação de trabalho escravo. Não é fácil precisar, no entanto, o número dos que são vítimas para o tráfico de órgãos.

Tomar consciência da prática desse crime e denunciá-lo é o grande objetivo da Campanha da Fraternidade, juntamente com a mobilização da sociedade brasileira para a erradicação desse mal que envergonha o país. Governos, justiça, legisladores, igrejas, sociedade civil, todos temos o dever de nos empenhar ao máximo na busca de caminhos que ponham fim a essa chaga que tem vitimado milhares de nossos irmãos e irmãs.

Lembra o texto base da CF que “a exploração, compra e venda das pessoas não é apenas mais um dano colateral do sistema econômico atual. Seus mecanismos perversos escondem verdadeiras formas de idolatria: dinheiro, ideologia e tecnologia” (n. 160). O tráfico humano é um pecado “concretizado em mentira, exploração e assassinato, opressão da verdade pela injustiça e pela soberba diante de Deus” (n. 159).

O tráfico humano fere a dignidade das pessoas, criadas à imagem e semelhança de Deus. Rouba-lhes a liberdade e põe fim ao seu sonho de uma vida feliz. Deus não nos criou para a exploração e a escravidão. “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

Que a Quaresma nos ajude em nossa conversão e nos faça comprometidos na luta pelo fim do tráfico humano, chaga social que nos envergonha.


Pe. Geraldo Martins
Coordenador Arquidiocesano de Pastoral