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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

“Meu filho, você não merece nada”


A premiada escritora e jornalista gaúcha Eliane Brum escreveu um texto muito interessante, que vale a pena partilhar. É sobre a maneira como a nossa geração lida com a questão da felicidade. E, naturalmente, como lida com a dor e a falta. Há algum tempo escrevi sobre este tema: a falta que faz falta. Embora conscientes de que a dor e a falta são ingredientes indispensáveis da vida, poucos conseguem encarar essa realidade. Como dizem: é a “ditadura da felicidade”; ou o “ser feliz a qualquer custo”.
O texto da Eliane toca na ferida de uma forma muito contundente. Lembra que “nossa geração está mais preparada, do ponto de vista das habilidades, mas, ao mesmo tempo, despreparada, porque não sabe lidar com frustrações”. Sabe usar bem da tecnologia, mas não sabe a importância do esforço pessoal, da luta. Conhece todas as potencialidades, mas desconhece a fragilidade da vida. Aprendeu que todos nascemos para ser felizes, mas não foi ensinado que a felicidade é também fruto do esforço, da luta e, muitas vezes, da dor.
É comum ouvir dos pais: “eu quero dar aos meus filhos o que eu não tive”. Muitos se matam para dar tudo aos filhos e evitar que sofram. Pais que super protegem. Quando esses(as) jovens chegam ao mercado de trabalho terão a ilusão de encontrar ali uma continuação de suas casas, onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Como raramente isso irá acontecer, vem a frustração, o desânimo, a sensação de infelicidade.
Muitos desconhecem que a felicidade, como a própria vida, é construção. E que, na maioria das vezes, pra se chegar lá, “é preciso ralar muito”. Terão de aprender com a vida, com as quedas e decepções, aquilo que os pais não ensinaram.
Muito forte a reflexão que a escritora faz em seguida: “Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. Há pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de tudo. E como se angustiam quando não o conseguem! É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites?”
E a visão de muitos é tão deturpada que chegam a pensar que a “genialidade” é mais importante que o esforço. Dizer que alguém é “esforçado é quase uma ofensa”. Ter de lutar, de dar duro parece a marca dos fracos. E junto com isso vem a falsa ideia de que é possível viver sem sofrer, que a dor é uma espécie de “anomalia”, que a felicidade é um direito: eu mereço ser feliz! Mas são poucos os que aprendem a lidar com a dor e as decepções. Desconhecem que ninguém consegue tudo o que quer.
É um peso cruel sobre os ombros dos pais: os filhos têm o direito de ser felizes; e cabe aos pais garantir esse direito. E os pais, tão limitados e frágeis, se sentirão culpados, sofrerão ao perceber que não dão conta do recado. Aí se arma um verdadeiro teatro: os filhos fingem felicidade, se empanturrando de coisas materiais, mais fáceis de alcançar; os pais fingem ser capazes de garantir a felicidade, mesmo sabendo que é uma mentira.
E conclui Eliane: “Os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. (…) Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa”.
Os pais deveriam entender que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”.
Pe. José Antonio de Oliveira

Francisco e a conversão pastoral


A repercussão da visita do papa Francisco ao Brasil foi surpreendente. As lições que deixou com seus gestos, palavras e silêncios ecoarão por muito tempo em nossos corações e em nossa vida. São tão numerosas e relevantes que fica difícil enumerá-las ou apontar a mais importante.
Detenho-me aos discursos que dirigiu ao episcopado brasileiro e aos dirigentes do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam). O pano de fundo de suas palavras é o Documento de Aparecida, do qual foi um dos principais redatores durante a V Conferência do Episcopado da América Latina e Caribe, realizada em Aparecida há seis anos.
Aos bispos da CNBB o papa mostrou o caminho de renovação da Igreja quando destacou que ela deve ser instrumento de reconciliação, dar espaço ao mistério de Deus, ser missionária. Quando insistiu que ela não se afaste da simplicidade; se faça companheira e vá além da escuta; que seja capaz de devolver a cidadania aos filhos de Deus e redescubra as entranhas de misericórdia.
Com delicadeza de pastor e sabedoria de mestre, sublinhou cinco desafios postos à Igreja no Brasil: formação dos leigos, religiosos, padres e bispos; colegialidade dos bispos; estado permanente de missão e conversão pastoral; função da Igreja na sociedade e a Amazônia.
Aos dirigentes do Celam, Francisco enfatizou a urgência da conversão pastoral. Fez inquietantes perguntas cujas respostas revelarão a Igreja que temos e a Igreja que queremos. As interrogações do papa têm como base a Igreja-Comunhão-Participação que nasce do Concílio Vaticano II e, na América Latina, se solidifica com Medellín e Puebla.
Questionou, por exemplo, se o trabalho da Igreja é mais administrativo que pastoral; se os leigos são realmente participantes da missão; se os problemas enfrentados pela Igreja são tratados de forma reativa ou proativa; se os Conselhos Pastorais e Econômicos das dioceses e paróquias são realmente espaço de participação e levados em conta para o discernimento pastoral; se os ministros ordenados já superaram a tentação de manipulação ou submissão em relação à missão dos leigos.
Para o papa estes questionamentos constituem a chave da conversão pastoral porque dizem respeito a atitudes. “A conversão pastoral diz respeito, principalmente, às atitudes e a uma reforma de vida”, diz o papa. Isso implica “entrar em processo” na dinâmica própria da mudança de atitudes. De acordo com Francisco, pastoral é o “exercício da maternidade da Igreja” que “gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta, conduz pela mão”, daí a necessidade de ser misericordiosa. “Sem misericórdia, poucas possibilidades temos hoje de inserir-nos em um mundo de feridos que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor”.
A conversão pastoral exige, segundo o papa, que a Igreja deixe de ser autorreferencial e que as pastorais sejam próximas para que promovam o encontro de Deus com as pessoas e vice-versa. Além disso, é necessário vencer pelo menos três grandes tentações: a ideologização do evangelho, o funcionalismo e o clericalismo. O caminho que Francisco propõe para superação deste último é simples e bastante conhecido: Grupos Bíblicos, Comunidades Eclesiais de Base e Conselhos Pastorais.
Estas palavras do papa Francisco jogam especial luz sobre o estudo que nossas comunidades por todo o Brasil fazem do texto da CNBB “Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia”. A renovação da paróquia que se busca terá sua efetiva concretização a partir de verdadeira conversão pastoral, que implica também na mudança de estruturas caducas.
Em boa hora Deus inspirou o papa Francisco que nos ajuda a perceber o caminho de renovação de nossas paróquias. Vale seu alerta: “a mudança de estruturas – de caducas a novas – não é fruto de um estudo de organização do organograma funcional eclesiástico, de que resultaria uma organização estática, mas é consequência da dinâmica da missão”. E ainda: “O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é a missionariedade”.
Pe. Geraldo Martins Dias


Dimensão Litúrgica lança novo volume da coleção “Celebrando o Cristo na vida do povo”



Terceiro Caderno de formação para Ministros da Palavra e agentes da pastoral litúrgica
Seguindo as orientações do Conselho Arquidiocesano de Pastoral (CAP) e dando continuidade aos trabalhos de implementação do Ministério da Palavra e formação litúrgica das comunidades da Arquidiocese de Mariana, a Comissão Arquidiocesana de Liturgia apresenta o subsídio litúrgico “Sacrosanctum Concilium – Um novo olhar sobre a Liturgia da Igreja”, terceiro volume da coleção “Celebrando o Cristo na vida do povo”.
Este fascículo visa implementar o estudo da Constituição sobre a Sagrada Liturgia, a Sacrosanctum Concilium (SC), neste ano em que ela completa 50 anos de promulgação.
Assim dispõe a Sacrosanctum Concilium 14: “É desejo ardente na mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da Liturgia exige e que é, por força do Batismo, um direito e um dever do povo cristão, ‘raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido” (1 Ped. 2,9; cfr. 2, 4-5).
Dentro desta linha de formação, acolhendo as preciosas contribuições da SC, o material apresentado oferece a oportunidade de um estudo mais aprofundado acerca da natureza da liturgia.  Eis a temática dos capítulos: Capítulo Primeiro: Liturgia do Coração e Liturgia da Igreja, Capítulo Segundo: A vida litúrgico-profética de Jesus, Capítulo Terceiro: Estrutura da Constituição Conciliar SC, Capítulo Quarto: A celebração litúrgica do agir de Deus na história e o Anexo: Processo de redação a aprovação da Constituição.
“Incentive-se o estudo deste subsídio nas paróquias, comunidades, nas diversas reuniões de equipes de liturgia e nos grupos de formação paroquial para o Ministério da Palavra. Que o estudo deste material estimule as pessoas, grupos e comunidades a uma melhor compreensão, uma nova mentalidade e um novo agir que resulte de fato em participação mais consciente e ativa na  sagrada Liturgia”, disse o assessor da Dimensão, padre Geraldo Buziani.
Adquira seu exemplar (R$ 2,50) na sua paróquia ou através do Centro de Pastoral de sua região e aproveite bem este valioso material de estudo. “Continuamos contando com o empenho e a participação de todos nesse projeto”, concluiu.
 
Confira a apresentação do Caderno de Formação feita pelo arcebispo metropolitano
Na comemoração do Jubileu de Ouro da promulgação da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, primeiro documento do Concílio Vaticano II, a Arquidiocese de Mariana publica esse precioso subsídio pastoral.
Esse “novo olhar sobre a Liturgia da Igreja” permitirá especialmente aos agentes da pastoral litúrgica e aos ministros da Palavra penetrarem, de maneira sistemática e com grande profundidade, no mistério que celebramos na Sagrada Liturgia. Sem pretender apresentar uma definição acadêmica ou didática sobre a Liturgia, a Sacrosanctum Concilium, de forma magisterial ensina-nos que “a Liturgia é o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realiza-se a santificação do ser humano; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros” (SC 7).
É bom sempre recordar que “toda celebração litúrgica como obra de Cristo sacerdote e de seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC 7).
Com o Vaticano II, soprou um vento renovador em toda a Igreja. O Povo de Deus experimentou a atmosfera alegre e vibrante de um novo Pentecostes. A Constituição sobre a Sagrada Liturgia abriu caminhos novos para a vida litúrgica e mesmo para toda a vida eclesial. Por ocasião do 25.º aniversário da SC, o Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Vicesimus Quintus Annus assim se expressa: “A renovação litúrgica é o fruto mais visível de toda a obra conciliar. Para muitos, a mensagem do Concílio Vaticano II foi percebida antes de tudo por meio da reforma litúrgica” (VQA, 12).
Por intercessão de Nossa Senhora da Assunção e de São José, Padroeiros de nossa Arquidiocese, imploro ao Espírito de Deus que, “com um novo olhar sobre a Liturgia da Igreja”, possamos sempre mais traduzir em nossa vida o que celebramos na fé.
Mariana, 31 de maio de 2013
+Geraldo Lyrio RochaArcebispo Metropolitano