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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Uma verdadeira escola de fé

Vivemos nestes dias a bonita experiência da Páscoa. E temos certeza de que toda a sua riqueza é gestada na celebração e na vivência da Quaresma e da Semana Santa, verdadeiro retiro espiritual para o Povo de Deus. É de fato uma bênção poder recordar e reviver todo o drama de Jesus, em sua paixão pela humanidade e sua compaixão pelos pecadores.

Para nós que vivemos em Minas Gerais, sobretudo em regiões marcadas pela piedade popular como a nossa, esse tempo é também uma escola de religiosidade e de fé. Como é bonito ver o povo celebrando, se emocionando, procurando o perdão, assumindo mudanças, voltando à Igreja, se envolvendo!

Como padres e pastores, temos o privilégio de acompanhar de perto todo esse processo de conversão, e aprender com essa gente simples a beleza de uma fé verdadeiramente vivencial, e não meramente teórica. Como aprendemos com o nosso povo!

Tudo isso nos coloca de cheio na questão da religiosidade popular. Para muitos, os atos paralitúrgicos da Semana Santa, como outras expressões de fé, podem soar como algo sem importância, ou uma manifestação inferior da fé. Algo menor. Mas o próprio Bento XVI nos recorda que se trata de um “precioso tesouro da Igreja Católica” (…) que ela deve proteger, promover e, naquilo que for necessário, também purificar” (Sessão de abertura da Conferência de Aparecida).

Não podemos negar que a própria religião oficial e sua liturgia trazem muito da fé popular existente no meio onde nasceu. E essa fé do povo nos ajuda a superar o intelectualismo, o exagerado rubricismo, muitas liturgias frias e distantes da realidade. É uma forma encarnada de se viver a fé em Jesus Cristo e a adesão ao seu Projeto; de expressar a própria espiritualidade.

A palavra de Bento XVI é clara. É preciso proteger e promover essa riqueza, sem deixar de também contribuir para que seja cada vez verdadeira, evitando desvios e deturpações.

Esse equilíbrio é fundamental. É importante reconhecer nos ritos paralitúrgicos uma ferramenta privilegiada para a oração, a evangelização e a reflexão. São expressões que dão visibilidade à fé e evangelizam. Numa sociedade secularizada onde, para muitos, a celebração do Mistério Pascal não passa de um bom ‘feriadão’, onde o Sagrado vai perdendo espaço para o consumismo, esses momentos são essenciais para a valorização da fé.

Por outro lado, é fundamental que haja também uma boa formação, para evitar que as cenas da paixão, morte e ressurreição não se tornem apenas um teatro; que os atos devocionais não caiam num mero devocionismo passageiro. É preciso cuidar para que nada abafe ou reduza a centralidade de Jesus Cristo. A tradição deve ser preservada, mas não pode impedir a renovação necessária.

Hoje se fala muito em ‘re+forma’ da liturgia, mantendo a essência e atualizando a ‘forma’ de celebrar. Fala-se de ‘re+leitura’. O texto é o mesmo, mas a compreensão, o ponto de vista, a aplicação, tudo pode ser aperfeiçoado. Muitos textos litúrgicos, inclusive da celebração eucarística, das leituras bíblicas, dos ritos de batismo, casamento, ordenação etc, passam por uma ‘re+visão’ periódica, para que sejam adaptados aos novos tempos, vistos com novos olhos.

Uma mudança bonita e muito positiva que aconteceu com a reforma litúrgica foi a valorização da Vigília Pascal, centro e ápice de toda a liturgia cristã. Até bem recentemente, parecia que o ponto alto da Semana Santa era a sexta-feira da paixão. Parava-se na morte. Pouco valor se dava à Vigília e ao Domingo da Ressurreição. Hoje percebemos com alegria uma participação muito mais numerosa e consciente, festiva e dinâmica. É a beleza da tradição que se enriquece com as mudanças suscitadas pelo Espírito e exigidas pelos novos tempos.

Como pastores e agentes, temos a missão de organizar e animar a Semana Santa. Procuramos ensinar e evangelizar com nossas homilias e sermões. É um tempo forte da Palavra. Enquanto isso, o povo nos ensina com a vida sua fé encarnada. Revela um Deus de fato próximo, amigo, solidário. Feliz o povo que abre os ouvidos e o coração para acolher tão sublime mistério, e consegue fazer a experiência da sua presença amorosa de Deus em sua vida. Felizes os pastores que não se contentam em falar de Deus, mas procuram, sobretudo neste tempo, falar com Deus, sem deixar de se colocar também como discípulos do povo fiel, grande mestre da fé encarnada e vivenciada.

Pe. José Antonio de Oliveira

Testemunhas bíblicas são tema de retiro para os bispos




As meditações do arcebispo de Chieti, em Vasto, na Itália, dom Bruno Forte, durante o retiro espiritual dos bispos, que faz parte da programação da 52ª Assembleia Geral da CNBB, abordaram a fé de Abraão, Maria, Pedro e Paulo. O retiro teve início no dia 3, à tarde e terminou neste domingo, ao meio dia. Na noite de sábado, os bispos participaram do lucernário, celebração na qual cada um acende uma vela, canta e medita a Palavra de Deus.

Testemunhas

Ao falar sobre a fé de Abraão, dom Bruno disse que não se trata de um “produto do coração”, mas de um dom. “Abraão aposta na impossível possibilidade de Deus, isto é, no fato que o mesmo Deus que deu e que tirou é o Deus no qual é preciso confiar”, disse dom Bruno, ao citar o exemplo de Abraão que se dispôs a sacrificar o próprio filho. “Deus sempre tem uma possibilidade impossível! Abraão confia em Deus, também no tempo do silêncio de Deus. Esta é a grandeza de Abraão: confiar em Deus não só quando tudo vai bem, quando Ele faz a tua vontade, mas também e sem reservas quando Ele te tira tudo, quando chega a pedir-te que o Isaac do teu coração seja sacrificado”, acrescentou.

Sobre a fé de Maria, dom Bruno disse que “ela é capaz de um amor atento, concreto, alegre e terno”. “Maria se aproxima sob o signo da ternura, isto é, do amor que gera alegria, que não cria distâncias, que antes aproxima os distantes, fazendo com que se sintam acolhidos e os enche com o espanto e a beleza de descobrir-se objeto de puro dom”, destaca. Segundo o bispo, na vida de Maria, o relacionamento com o Filho é determinante. “Mãe atenta e terna, vive as expectativas, os silêncios, as alegrias e as provas que toda mãe é chamada a atravessar: é significativo que nem sempre compreenda tudo sobre ele. Mas vai adiante, confiando em Deus, amando e protegendo a seu modo aquele Filho, tão pequeno e tão grande, numa mistura de proximidade e de dolorosas separações, que a tornam modelo de maternidade: os filhos são gerados na dor e no amor por toda a vida”, explica dom Bruno.

Quanto a Pedro, segundo dom Bruno, “foi alguém que aprendeu a não ser nada”, porque aprende o “caminho da humildade’ que é o “caminho da fé vivida, porque ama Deus os humildes e aceita morar em seu coração que tem sede dele”.

Já Paulo é descrito por dom Bruno Forte como “um homem ‘tocado’ por Deus de maneira tão profunda que viveu o restante de seus dias movido pelo único desejo de comunicar aos outros a experiência de amor gratuito e libertador feita no encontro com o Senhor Jesus no caminho de Damasco”.

Fonte: CNBB

Entrevista do teólogo Frei Beto, após encontro com o Papa Francisco:

P- Qual é a situação da Teologia da Libertação hoje?
R- A Teologia da Libertação sempre foi muito viva. Hoje ela não trata de assuntos revolucionários, porém encara os temas do desenvolvimento, das causas da miséria, da ecologia, da proteção do meio ambiente, das novas tecnologias, dos avanços da cosmologia, das nanotecnologias e da bioética, ou seja dos variados assuntos novos que se adicionaram à Teologia da Libertação.
P- Estes são assuntos próximos a Francisco.
R- Sim, são temas próximos a ele porque o seu primeiro texto, a exortação apostólica “Evangelii Gaudium”, é quase um texto subversivo. Até o “Economist” protestou, dizendo que o Papa entendeu errado, e a estadunidense CBS fez o mesmo, evidenciando que o Papa deve conhecer melhor a realidade do mercado. Mas todos sabemos que o mercado está contra os direitos humanos, porque defende a apropriação privada do capital e da riqueza.
P- Na sua opinião, a Igreja está pronta a seguir o radicalismo evangélico do Papa Francisco?
R- Não, ainda não. Temos uma cabeça nova mas um corpo velho que não mexe muito, está um pouco paralisado. Precisa de tempo para adequar a cabeça ao corpo e o corpo à cabeça.