Vivemos nestes dias a bonita experiência da Páscoa. E temos certeza de que toda a sua riqueza é gestada na celebração e na vivência da Quaresma e da Semana Santa, verdadeiro retiro espiritual para o Povo de Deus. É de fato uma bênção poder recordar e reviver todo o drama de Jesus, em sua paixão pela humanidade e sua compaixão pelos pecadores.
Para nós que vivemos em Minas Gerais, sobretudo em regiões marcadas pela piedade popular como a nossa, esse tempo é também uma escola de religiosidade e de fé. Como é bonito ver o povo celebrando, se emocionando, procurando o perdão, assumindo mudanças, voltando à Igreja, se envolvendo!
Como padres e pastores, temos o privilégio de acompanhar de perto todo esse processo de conversão, e aprender com essa gente simples a beleza de uma fé verdadeiramente vivencial, e não meramente teórica. Como aprendemos com o nosso povo!
Tudo isso nos coloca de cheio na questão da religiosidade popular. Para muitos, os atos paralitúrgicos da Semana Santa, como outras expressões de fé, podem soar como algo sem importância, ou uma manifestação inferior da fé. Algo menor. Mas o próprio Bento XVI nos recorda que se trata de um “precioso tesouro da Igreja Católica” (…) que ela deve proteger, promover e, naquilo que for necessário, também purificar” (Sessão de abertura da Conferência de Aparecida).
Não podemos negar que a própria religião oficial e sua liturgia trazem muito da fé popular existente no meio onde nasceu. E essa fé do povo nos ajuda a superar o intelectualismo, o exagerado rubricismo, muitas liturgias frias e distantes da realidade. É uma forma encarnada de se viver a fé em Jesus Cristo e a adesão ao seu Projeto; de expressar a própria espiritualidade.
A palavra de Bento XVI é clara. É preciso proteger e promover essa riqueza, sem deixar de também contribuir para que seja cada vez verdadeira, evitando desvios e deturpações.
Esse equilíbrio é fundamental. É importante reconhecer nos ritos paralitúrgicos uma ferramenta privilegiada para a oração, a evangelização e a reflexão. São expressões que dão visibilidade à fé e evangelizam. Numa sociedade secularizada onde, para muitos, a celebração do Mistério Pascal não passa de um bom ‘feriadão’, onde o Sagrado vai perdendo espaço para o consumismo, esses momentos são essenciais para a valorização da fé.
Por outro lado, é fundamental que haja também uma boa formação, para evitar que as cenas da paixão, morte e ressurreição não se tornem apenas um teatro; que os atos devocionais não caiam num mero devocionismo passageiro. É preciso cuidar para que nada abafe ou reduza a centralidade de Jesus Cristo. A tradição deve ser preservada, mas não pode impedir a renovação necessária.
Hoje se fala muito em ‘re+forma’ da liturgia, mantendo a essência e atualizando a ‘forma’ de celebrar. Fala-se de ‘re+leitura’. O texto é o mesmo, mas a compreensão, o ponto de vista, a aplicação, tudo pode ser aperfeiçoado. Muitos textos litúrgicos, inclusive da celebração eucarística, das leituras bíblicas, dos ritos de batismo, casamento, ordenação etc, passam por uma ‘re+visão’ periódica, para que sejam adaptados aos novos tempos, vistos com novos olhos.
Uma mudança bonita e muito positiva que aconteceu com a reforma litúrgica foi a valorização da Vigília Pascal, centro e ápice de toda a liturgia cristã. Até bem recentemente, parecia que o ponto alto da Semana Santa era a sexta-feira da paixão. Parava-se na morte. Pouco valor se dava à Vigília e ao Domingo da Ressurreição. Hoje percebemos com alegria uma participação muito mais numerosa e consciente, festiva e dinâmica. É a beleza da tradição que se enriquece com as mudanças suscitadas pelo Espírito e exigidas pelos novos tempos.
Como pastores e agentes, temos a missão de organizar e animar a Semana Santa. Procuramos ensinar e evangelizar com nossas homilias e sermões. É um tempo forte da Palavra. Enquanto isso, o povo nos ensina com a vida sua fé encarnada. Revela um Deus de fato próximo, amigo, solidário. Feliz o povo que abre os ouvidos e o coração para acolher tão sublime mistério, e consegue fazer a experiência da sua presença amorosa de Deus em sua vida. Felizes os pastores que não se contentam em falar de Deus, mas procuram, sobretudo neste tempo, falar com Deus, sem deixar de se colocar também como discípulos do povo fiel, grande mestre da fé encarnada e vivenciada.
Pe. José Antonio de Oliveira
Para nós que vivemos em Minas Gerais, sobretudo em regiões marcadas pela piedade popular como a nossa, esse tempo é também uma escola de religiosidade e de fé. Como é bonito ver o povo celebrando, se emocionando, procurando o perdão, assumindo mudanças, voltando à Igreja, se envolvendo!
Como padres e pastores, temos o privilégio de acompanhar de perto todo esse processo de conversão, e aprender com essa gente simples a beleza de uma fé verdadeiramente vivencial, e não meramente teórica. Como aprendemos com o nosso povo!
Tudo isso nos coloca de cheio na questão da religiosidade popular. Para muitos, os atos paralitúrgicos da Semana Santa, como outras expressões de fé, podem soar como algo sem importância, ou uma manifestação inferior da fé. Algo menor. Mas o próprio Bento XVI nos recorda que se trata de um “precioso tesouro da Igreja Católica” (…) que ela deve proteger, promover e, naquilo que for necessário, também purificar” (Sessão de abertura da Conferência de Aparecida).
Não podemos negar que a própria religião oficial e sua liturgia trazem muito da fé popular existente no meio onde nasceu. E essa fé do povo nos ajuda a superar o intelectualismo, o exagerado rubricismo, muitas liturgias frias e distantes da realidade. É uma forma encarnada de se viver a fé em Jesus Cristo e a adesão ao seu Projeto; de expressar a própria espiritualidade.
A palavra de Bento XVI é clara. É preciso proteger e promover essa riqueza, sem deixar de também contribuir para que seja cada vez verdadeira, evitando desvios e deturpações.
Esse equilíbrio é fundamental. É importante reconhecer nos ritos paralitúrgicos uma ferramenta privilegiada para a oração, a evangelização e a reflexão. São expressões que dão visibilidade à fé e evangelizam. Numa sociedade secularizada onde, para muitos, a celebração do Mistério Pascal não passa de um bom ‘feriadão’, onde o Sagrado vai perdendo espaço para o consumismo, esses momentos são essenciais para a valorização da fé.
Por outro lado, é fundamental que haja também uma boa formação, para evitar que as cenas da paixão, morte e ressurreição não se tornem apenas um teatro; que os atos devocionais não caiam num mero devocionismo passageiro. É preciso cuidar para que nada abafe ou reduza a centralidade de Jesus Cristo. A tradição deve ser preservada, mas não pode impedir a renovação necessária.
Hoje se fala muito em ‘re+forma’ da liturgia, mantendo a essência e atualizando a ‘forma’ de celebrar. Fala-se de ‘re+leitura’. O texto é o mesmo, mas a compreensão, o ponto de vista, a aplicação, tudo pode ser aperfeiçoado. Muitos textos litúrgicos, inclusive da celebração eucarística, das leituras bíblicas, dos ritos de batismo, casamento, ordenação etc, passam por uma ‘re+visão’ periódica, para que sejam adaptados aos novos tempos, vistos com novos olhos.
Uma mudança bonita e muito positiva que aconteceu com a reforma litúrgica foi a valorização da Vigília Pascal, centro e ápice de toda a liturgia cristã. Até bem recentemente, parecia que o ponto alto da Semana Santa era a sexta-feira da paixão. Parava-se na morte. Pouco valor se dava à Vigília e ao Domingo da Ressurreição. Hoje percebemos com alegria uma participação muito mais numerosa e consciente, festiva e dinâmica. É a beleza da tradição que se enriquece com as mudanças suscitadas pelo Espírito e exigidas pelos novos tempos.
Como pastores e agentes, temos a missão de organizar e animar a Semana Santa. Procuramos ensinar e evangelizar com nossas homilias e sermões. É um tempo forte da Palavra. Enquanto isso, o povo nos ensina com a vida sua fé encarnada. Revela um Deus de fato próximo, amigo, solidário. Feliz o povo que abre os ouvidos e o coração para acolher tão sublime mistério, e consegue fazer a experiência da sua presença amorosa de Deus em sua vida. Felizes os pastores que não se contentam em falar de Deus, mas procuram, sobretudo neste tempo, falar com Deus, sem deixar de se colocar também como discípulos do povo fiel, grande mestre da fé encarnada e vivenciada.
Pe. José Antonio de Oliveira